No último dia daquela viagem de paz e tranquilidade, que somente um vilarejo de pescadores pode oferecer com suas belas paisagens, viu uma casa para vender ao lado da pousada onde estava hospedado. “Comprei e fui ficando, ficando… Me integrei à vida social de Trancoso, não de alta sociedade, mas dessa relação com os nativos”, explica. Antes da pandemia, visitava com bastante frequência, de três a quatro vezes no mesmo ano, em períodos de até oito meses. O motivo pelo qual mais se encantou foi a receptividade da população e, a partir dessa abertura, foi registrando momentos dos mais variados e apaixonando-se por essa vida simples e de qualidade.
O fotógrafo Fernando Lombardi – conhecido no universo da moda e da arquitetura – começou a frequentar a região sul da Bahia no ano de 2001, quando começou a retratar personagens e a paisagem local. Morando na Itália desde o fim da década de 1980, mais do que um simples refúgio, o destino era a injeção de brasilidade que precisava para retomar a vida lá fora. “Foi um ano de grande transformação porque, com a comemoração dos 500 anos do Brasil um ano antes, fizeram a rodovia asfaltada (BA-001, ligando Porto Seguro a Trancoso e a Arraial d’Ajuda). Tudo mudou no sentido de deslocamento e de receber pessoas”, recorda.
“Fotografar os moradores foi uma experiência magnífica. Me recordo da espontaneidade e da alegria de usar a fotografia. Principalmente, por uma questão que só fui descobrir depois: Trancoso tem uma memória fotográfica mínima antes do anos 1980. Com a umidade e a salinidade do ar, as fotos em papel duravam pouco tempo.”
A partir dali, o fotógrafo começava a colecionar momentos e eternizar esses encontros da rotina na comunidade. Além de pessoas, sentia necessidade por clicar lugares que, segundo ele, se perderiam na história como restaurantes ou estúdios de artesãos. “Uma foto que demoraria cinco minutos, demorava quatro horas porque te chamam para um café, para almoçar”, recorda. Hoje, os amigos que colecionou ao longo dos anos e a casa linda que construiu fazem com que volte sempre. “E a vontade de ser livre como quiser”, pontua.
Pessoas superfamosas viram desconhecidas no ritmo da vida praiana. Exemplo disso foi um encontro com o artista italiano Francesco Clemente, expoente da transvanguarda daquele país, que passava despercebido pelos locais. Nesses momentos, segundo ele, você não se sabe com quem está falando e aí está o grande charme do vilarejo. “Ao chegar lá, parece que você se desarma. Aconteceu isso comigo ao me deparar com Antonio Banderas, no Quadrado, quando (o ator) estava de chinelo e calção. Somente depois de cinco minutos de conversa, com aquela sensação de ‘conheço ele de algum lugar’, me dei conta quem era. São encontros imprevisíveis”, recorda ele desse momento que ficou eternizado apenas na memória.
Retrato da história
Seu rico arquivo de Trancoso no Instagram: vai de icônicos moradores, como Dona Frozina – principal parteira da cidade – e sua família, que é uma instituição histórica de Trancoso, à arquitetura do lugar. “Quando você faz uma coisa importante, não se dá conta naquele momento”, conta Lombardi. A melhor parte do arquivo da região, em sua opinião, não foi feita com a fotografia digital, mas analógica com filme negativo. “Tem de esperar para revelar e fazer ampliação. Esse lapso de tempo faz você reviver aquele momento. As melhores fotos de Trancoso foram feitas no meu período inicial da minha estada em Trancoso, uma forma de me aproximar da comunidade”, avalia.
A ideia é que essas fotos façam parte, em um futuro próximo, de exposição dedicada nos showrooms da incorporadora, localizados no sul da Bahia.