Arquiteto baiano Caio Bandeira projeta espaços em plena sintonia com a natureza.

Casa de Vidro by the architect Lina Bo Bardi

“A natureza é invencível, não tem como ganhar. Tem que respeitar o clima, a cultura (do lugar). Tudo isso tem de ser absorvido e respeitado pela arquitetura no projeto.”

Caio Bandeira tinha certeza, desde a infância, que trilharia um caminho promissor na carreira, deixando um legado na arquitetura baiana. Quando foi estudar na Universidade Politécnica de Valência (Espanha), abriu sua mente para os limites que a arquitetura pode avançar em termos de estilo e de habilidade, sempre respeitando a natureza e o entorno das construções. Sócio do escritório Architects + CO (ao lado de Thiago Martins), Bandeira assina o empreendimento Brisa, da Nampur, localizado em Arraial D’Ajuda, no sul da Bahia.

Diferentemente dos europeus, que usam os jardins como elemento arquitetônico, as construções brasileiras buscam se integrar à natureza em um processo mais orgânico. É só reparar em projetos modernistas como a Casa de Vidro (SP), de Lina Bo Bardi, ou na Casa das Canoas (RJ), de Oscar Niemeyer. “No escritório, a gente usa elementos que promovem essa integração com a natureza e com a vista. No terreno do Brisa, visitei três vezes para estudar e entender a melhor posição das casas a fim de terem maior sintonia com a urbanização, garantindo privacidade e conforto”, explica o conceito.

Guggenheim Bilbao by the architect Frank Gehry
Guggenheim Bilbao by the architect Frank Gehry

Na Bahia, as construções devem ter uma premissa: cobertura. Porque chove durante dez meses do ano, segundo ele. “A casa brasileira tem que ser pensada com telhado, em especial no litoral brasileiro voltado para o Atlântico. Sempre vai ter umidade e chuva”, sugere. “O conceito de arquitetura indestrutível foi quebrado com a construção do Guggenheim Bilbao, na Espanha. Fizeram o museu revestido com titânio, e lá é uma cidade que chove dez vezes menos do que na Bahia, e enferrujou o material que consideravam indestrutível”.

Bandeira vem construindo sua assinatura autoral ao dar vida a espaços onde áreas internas e externas se confundem junto a elementos que reforçam seu tino criativo (como os brises verticais, presentes desde seu primeiro projeto). “Gosto de criar cenários que precisem de pouco adorno e não tenham muita informação”. Ao iniciar um projeto, gosta de visitar o lugar para entender o que pode inspirar em termos culturais. Se tem elementos tribais, vai buscar referências em tribos indígenas, por exemplo.

Quando pensa em um projeto, busca unir universo de sensações, que ativam os sentidos: do cheiro à temperatura, além das diferentes texturas. “Com o Instagram e essa era digital, a arquitetura está muito associada à imagem. Mas você tem que sentir e entrar nela. Esse é o grande diferencial do escritório, que evita seguir tendências. Está sempre atrás do novo e do original. Nossa marca é querer criar e inovar”. Entre as suas referências, estão Zanine Caldas e Paulo Mendes da Rocha. A madeira é um material que sempre aparece em seus croquis porque, além de oferecer aconchego, reforça sua preocupação ambiental.